União e Organização - Uma necessidade urgente ao Karate brasileiro

16/06/2012 23:05

União e Organização - Uma necessidade urgente ao Karate brasileiro
Por Marcelo Jesus*

Existiu uma polêmica em torno da fiscalização por parte dos CREFs a atividades de Artes Marciais, pois bem:  historicamente não há qualquer especificação dessas atividades no que estabelece a lei nº 9696, de 1 de setembro de 1998 que dispõe sobre a regulamentação do profissional de Educação Física, elas só foram aparecer no CONFEF nº 046/2002, 4 anos depois.

Já é sabido e acredito ser ponto pacífico que, devido às várias ações judiciais ganhas por professores e estabelecimentos de Artes Marciais, os órgãos da justiça brasileira entendem que nossas atividades não podem ser reguladas nem fiscalizadas pelos Conselhos de Educação Física pois a qualificação que um estudante dessa cadeira recebe na universidade na área especifica das Artes Marciais não dá condições reais para que ele ministre aulas, mas aí caimos em um grande buraco negro, pois não há educação formal para profissionais que queiram atuar neste segmento, não há curso superior, nem mesmo formação padronizada para professores de Artes Marciais. E principalmente não existe conselho de classe que regulamente e reivindique os direitos dos profissionais de Artes Marciais de forma séria, organizada e idônea.

E o resultado disso é que presenciamos uma deturpação dos ensinamentos originais e também a estagnação da metodologia utilizada para conduzir os treinamentos, gerando inclusive lesões graves em quem está procurando um estilo saudável de viver e uma melhoria para o seu condicionamento físico. Existem profissionais atuando há muito tempo, mas ainda sem conhecimento técnico dessa maravilhosa máquina que chamamos corpo humano. Baseados na 'tradição', alegam que vários anos atrás o seu treinamento era assim e eles não sofreram nenhuma lesão grave. Há de se convir que os tempos eram outros, e a quantidade de carga rotineira de uma pessoa era muito menor do que é hoje em dia e, diga-se de passagem, muito menos estressante.

Bem, temos isto tudo posto ao lado da vertente cultural, porque arte marcial agrega também parte da cultura que a originou, agora sim temos que falar em tradição, pois este conhecimento é inestimável para a formação tanto de adultos quanto de crianças, quando se ministra qualquer palestra sobre qualquer área é necessário que se saiba com alguma profundidade o que estamos passando adiante e com um pouco de tristeza venho notando que a face esportiva vem suplantando e ofuscando algo que deveria primar pela ética e honestidade. 

O lado esportivo é importante também, pois com ele aprendemos que um dia se perde e em outro se ganha, sobretudo aprendemos a vencer e perder com dignidade, mas algumas pessoas hoje em dia buscam a vitória custe o que custar, não importando quais meios utilizam para alcançar seu objetivo.

Sou um ferrenho defensor que haja união, para não só fortalecermos o Karate como desporto, mas que possamos padronizar o ensino, aprimorar a didática e repassar o conhecimento técnico necessário para desempenharmos um papel que julgo cada dia ser mais importante: Formadores de cidadãos.

No Karate, a tradição pode e deve ser aliada do progresso.

Utopia? Pode ser, mas não vejo outro jeito...tem que ser feito! Quem o fará? Nós! Que tal começarmos pelo nosso próprio Dojo, depois ampliarmos o alcance aos nossos contatos...e daí por diante. 

Osu!

* Sensei Marcelo Jesus é Faixa Preta 3° Dan - Shotokan (FKERJ / CBK), aluno direto de Sensei Alcyone e de Sensei Wellington
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